Essa tal interferência
Que bom e fácil seria se a diferença entre português e o inglês pudesse ser resolvida palavra por palavra, através de um dicionário bilíngue, digital ou não. Porém, como já se bem sabe, nem em inglês, nem qualquer outra língua, as palavras operam isoladamente. Pelo contrário, elas costumam se associar em expressões que podem variar de duas palavras a frases inteiras, tratadas como se fossem um vocábulo só, os chamados lexical chunks. Em português, são conhecidos como itens lexicais.
A tradução em inglês
Mas se a questão vai além da mera tradução literal de vocábulos isolados, de onde vem então esse apego? A meu ver, este é promovido quando se incute no pensamento do aluno a ideia de que cada palavra em português deve ter uma tradução em inglês, em vez de um relacionamento de equivalência. Note-se, pois, que não há nada de errado em se usar o idioma pátrio. Pelo contrário, todo aluno que não passou pela experiência de uma educação bilíngue necessita de uma referência linguística para poder melhor compreender, e articular, a língua que se pôs a aprender. O problema é quando esse hábito que se transforma em dependência, que, por sua vez, se revela uma interferência negativa no texto na língua de chegada, comprometendo a clareza. O autor acaba não notando essa interferência, uma vez que a tradução palavra-por-palavra proporciona uma sensação de conforto e segurança ao usuário. Ocorre que essa estratégia gera uma sensação contrária para o leitor, dada a ocorrência de frases muitas vezes desconexas, confusas, ambíguas, ou até mesmo de efeito involuntariamente cômico.
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